Sem dúvida, estamos vivendo um momento ímpar na história da informação. Pode-se dizer que estamos na era da democratização tanto da divulgação do conhecimento científico quanto de sua produção, fenômeno inexistente há pouquíssimo tempo. O conhecimento já não está circunscrito às páginas da Britânica ou da Mirador, à Folha ou ao Estadão e aos periódicos científicos. Já atravessou a fronteira das escolas, institutos de pesquisa e universidades. E a internet é, sem dúvida, a grande responsável por essa revolução no modo de conhecer. A ampliação das mídias de transmissão e recepção de informações desconhece tempo e espaço. São os orkuts, os blogs, os podcasts, You Tube, wikis, e a lista não pára nestes meios.
O governo brasileiro, em cooperação com as secretarias estaduais de Ciência e Tecnologia, tem tomado iniciativas para diminuir a distância entre a camada mais carente da população e o acesso ao conhecimento científico. Dentre as principais atividades, destacam-se a criação de Museus de Ciência, as Olimpíadas de Matemática, e a realização da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, criada em junho de 2004 por um decreto do Presidente Lula, e que acontece sempre no mês de outubro. Estas são ações do que atualmente é chamado de “sistema nacional de popularização da Ciência” que tem criado uma verdadeira mania por ciência. Pesquisas com células-tronco para o tratamento de doenças, alimentos transgênicos na mesa, mudanças climáticas (aquecimento global), novas aplicações da nanotecnologia estão na ordem do dia. O cidadão comum já não está alheio às descobertas que poderão ter impacto negativo ou positivo em sua vida. A ciência virou até tema de samba-enredo. Parece não haver mais limites para o conhecimento. Será? Iniciativas para o avanço da popularização da ciência ainda têm inúmeros desafios a enfrentar.
Ildeu de Castro Moreira, diretor do Departamento de Popularização e Difusão de Ciência e Tecnologia (Ministério de C&T), destaca a necessidade de as universidades se abrirem mais para a sociedade, já que durante muitas décadas, ela esteve voltada para a elite. Apesar de, nos últimos anos, ter se intensificado o movimento de abertura para a comunidade, com expansão das atividades de extensão, a divulgação do universo complexo da Ciência e Tecnologia, no curto período de uma aula ou exposição, exige trabalho especializado e competente, apresentado de maneira interessante. Ele ainda acrescenta que um dos grandes problemas da escola brasileira é que ela gera desgosto para o cidadão comum diante da ciência, quando lhe é imposta uma massa de informação, sem que se considere a capacidade do estudante descobrir o mundo.
A ignorância, a falta de critério na seleção de informações e a incapacidade de julgamento quanto à confiabilidade de determinada informação pode ser o empecilho nessa escalada para o conhecimento. Assim, o desafio maior está na relação entre o comunicador da ciência e o professor, concretizada na parceria escola, mídia e sociedade. Os profissionais da comunicação não devem furtar-se à divulgação crítica e analítica da informação científica. Devem estar atentos às questões que envolvem ética no trabalho científico, como plágio, fabricação de resultados, informação escondida ou o controle de informação com vistas a tirar disso alguma vantagem. A ingenuidade não é uma virtude desejável no divulgador da ciência, o qual deve livrar-se do imaginário corrente de que o cientista é alguém cujo objetivo mais elevado é o bem da humanidade. Somado a isso, o comunicador da ciência deve utilizar uma linguagem – não que banalize – mas que aproxime o conhecimento produzido nas academias e nos laboratórios ao cotidiano das pessoas, de modo que estas possam discernir os malefícios e benefícios desta ou daquela aplicação da ciência e, em momento oportuno, quando chamadas a opinar num plebiscito, por exemplo, possam fazê-lo de maneira consciente.
Ao professor deve ser garantida uma formação que lhe permita ser um selecionador criterioso da informação científica produzida pela mídia e adotar uma postura crítica em relação a ela. Relacionar a teoria aprendida em sala de aula com as pesquisas práticas e estudos noticiados pela mídia ajudam a desenvolver o senso crítico dos alunos, além de ser uma excelente oportunidade de discutir implicações sociais, éticas e econômicas. Programas de capacitação docente executados pelas universidades devem dar subsídios para que o professor possa ter um papel determinante na formação de alunos curiosos e engajados, ávidos não apenas pela recepção, mas criadores de informação e divulgadores de suas próprias descobertas.
É oportuno lembrar as palavras de Kliutchevski, historiador russo do século XIX: “O valor de todo o conhecimento está no seu vínculo com as nossas necessidades, aspirações e ações; de outra forma, o conhecimento torna-se um simples lastro de memória, capaz apenas - como um navio que navega com demasiado peso - de diminuir a oscilação da vida quotidiana”. Assim, deve ser intrínseca ao ensino a reflexão crítica a respeito dos processos de produção do conhecimento científico-tecnológico e de suas implicações na sociedade e na qualidade de vida de cada cidadão. Essa abordagem traduz um compromisso social e educacional, na medida em que universaliza a informação, amplia a discussão de questões relevantes para as diferentes camadas da sociedade, dando-lhes condição de decidir se determinada aplicação ou descoberta científica é boa ou ruim para sua vida ou o meio-ambiente. Dessa forma, deve-se propiciar aos alunos, desde os primeiros anos do ensino básico, práticas de ensino que favoreçam uma aprendizagem comprometida com as dimensões sociais, políticas e econômicas que permeiam as relações entre ciência, tecnologia e sociedade.
O artigo permite pensarmos sobre a formação de professores que deve garantir alguns objetivos: desenvolver a habilidade de selecionar informações científicas e desenvolver uma postura crítica e reflexiva. Ao professor deve ser garantida uma formação.
ResponderExcluirProfª DANIELE kOBAYASHI
Admiro todo o seu esforço e competência, tomara que brevemente todos os seus anseios quanto a uma Educação de certa forma privilegiada, expansiva e igualitária à todos os estudantes do nosso País, sejam alcançados.
ResponderExcluirSaúde, sorte e felicidades.
LINO - FAC. Limeira/SP
Acredito firmemente que essa nova geração de professores que está sendo formada seja capaz de estimular seus alunos na busca pelo autodesenvolvimento fazendo assim com que tenhamos uma sociedade mais produtiva cientificamente.
ResponderExcluirSilmara - fac. Limeira/SP